Trânsitos do Teatro: colóquio sobre tradução interlingual e intersemiótica de literatura dramática
Uma cooperação do Centro de Estudos de Tradução Literária da Casa Guilherme de Almeida com a Pós-Graduação em Estudos da Tradução (POET) da Universidade Federal do Ceará (UFC) – Evento realizou-se no dia 3 de junho de 2016.
Com uma programação de palestras proferidas em Fortaleza e em São Paulo e reciprocamente transmitidas para ambas as cidades por videoconferência, o Colóquio pretende discutir questões relacionadas à tradução de literatura dramática, seja entre línguas, seja do papel para o palco. Além de apontar a especificidade do gênero dramático para a tradução literária, os participantes levantarão questões e impasses tradutórios singulares do teatro. A ênfase recairá sobre o drama contemporâneo e sobre a adaptação contemporânea de literatura dramática para o palco.
Em Fortaleza
Local: Casa de Cultura Alemã – Sala Interarte
Universidade Federal do Ceará, Campus Benfica
Horário: Sexta, 3 de junho de 2016, das 9h às 12h
A programação a ser realizada em Fortaleza e transmitida para São Paulo deverá ser divulgada em breve nesta página.
9h
Giges e seu anel: trânsitos entre a História, a Filosofia e o Teatro
Por Fernanda Coutinho
O mito de Giges, conduzido por Heródoto, da sabedoria oral para os registros da História, vem criando nexos entre distintos campos de inquietação humana, tais como a Filosofia e o Teatro.
Partindo-se da tragédia de Friedrich Hebbel (1854), pode-se ainda pensar o percurso deste mito na esfera teatral, o qual alcança a modernidade, através do Giges de André Gide. Como traduzir, então, esse personagem migrante, que traz em si a pergunta ancestral que nos persegue: quem sou eu?
10h Intersemiose do gênero: Charlotte Cushman tradutora
Por Yuri Brunello
A “masculinidade” é um dos elementos da atuação da americana Charlotte Cushman (1816-1876) que mais chamou a atenção dos críticos da época. Desde os anos setenta do século passado, uma quantidade significativa de estudiosos de Cushman redefiniu a “masculinidade” como “lesbianismo”. Se, por um lado, muitos detalhes da vida privada da artista justificam uma leitura homoerótica do estilo cushmaniano, a expressão de masculinidade Cushman, por outro lado, pode também estar aberta a outras interpretações. O palestrante descreverá como Cushman adota uma estratégia de “suspensão” do feminino, evitando assim o discurso patriarcal então dominante na cena teatral dos EUA.
11h Quando o nonsense poetiza o palco – Três movimentos para corpos em transe
Por Claudicélio Rodrigues
Se as vanguardas europeias possibilitaram a crítica ao conceito de arte como representação e mimese, elas também impulsionaram um discurso em favor de um sentimento de libertação da forma, instigando, através da convergências de diversas linguagens, o nonsense, o absurdo e o irracional como matérias de representação das subjetividades. O teatro foi a arte que sensivelmente acolheu poetas, pintores e músicos para ressignificar a vida e suas poéticas. Assim, partindo dos movimentos dadaísta e surrealista, o palestrante discutirá três modelos de desconstrução da arte de representar: o Cabaret Voltaire, em Zurique, e as peças Ubu Rei, de Alfred Jarry, e Les Mamelles de Tirésias, de Guillaume Apollinaire, em Paris. Seriam esses movimentos uma protoperformance?
Em São Paulo
Local: Anexo da Casa Guilherme de Almeida
Rua Cardoso de Almeida, 1943 – Perdizes
Horário: 14h – 18h30
Programação do colóquio em São Paulo:
14h
Arcaico Drama: revivendo a experiência do teatro antigo no palco moderno
Por Robert de Brose
Diferentes expedientes utilizados pelo drama clássico têm um forte apelo emocional e estético que transcende as barreiras temporais ou culturais entre a audiência antiga e a moderna, pelo fato de abordarem temas universais por meio de uma série de dimensões (musicais, rítmicas, coreográficas) capazes de carregar de significado não verbal a performance dos textos que chegaram até nós. O palestrante pretende mostrar que as traduções que levam em conta as dimensões cênica e musical do drama antigo e procuram produzir textos para o palco e para a voz, mais do que para o livro e os olhos, tendem a recuperar com maior eficácia a complexidade do teatro grego antigo.
15h30 A Glauberiana, um coro trágico de Édipo
Por Renata Cazarini de Freitas
Há 20 anos, o cineasta Glauber Rocha foi parar num dos coros da tragédia Édipo. O ator e encenador Renato Borghi transferiu, da cidade grega de Tebas para uma fictícia Tabas brasileira, o mito do príncipe que mata o pai, desvenda o enigma da esfinge e se casa com a mãe. A palestra aborda a “tropicalização” do texto dramático a partir da tradução para o português de uma versão inglesa de 1968, pelo poeta Ted Hughes, da peça em latim de Sêneca (I d.C.) e posterior amálgama com uma versão brasileira do texto grego de Sófocles (V a.C.).
17h
Traduzir o teatro após o teatro – Sobre os impasses da tradução da obra dramática de Peter Handke
Por Simone Homem de Mello
Um dos expoentes do drama contemporâneo sistematicamente encenado em palcos europeus e internacionais, o escritor austríaco Peter Handke, coloca em xeque, desde a década de 1960 até suas peças publicadas e montadas nos últimos anos, a separação entre os gêneros lírico, épico e dramático. A palestra discute quais as implicações – para o tradutor – dessa mistura de gêneros na obra teatral de Handke e qual especificidade dramática ainda resta nesses textos híbridos.
Claudicélio Rodrigues, doutor em Ciência da Literatura pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), é professor adjunto de Literatura Brasileira na Universidade Federal do Ceará. Sob o nome Cláudio Rodrigues, é escritor de literatura infantojuvenil.
Fernanda Coutinho, doutora em Teoria da Literatura e pós-doutora em Literatura Comparada, é professora do curso de graduação e de pós-graduação em Letras e em Estudos de Tradução da Universidade Federal do Ceará.
Luana Ferreira de Freitas concluiu doutorado em Teoria Literária, na Universidade Federal de Santa Catarina, em 2007, e pós-doutorado em Estudos da Tradução, na Universidade Federal de Santa Catarina, em 2010. É atualmente professora na Universidade Federal do Ceará,onde atua na área de letras, pesquisando literatura inglesa, sobretudo a obra de Laurence Sterne, e Estudos da Tradução, especialmente autoria, tradução literária e estilo, literatura estrangeira traduzida no Brasil e literatura brasileira traduzida, sobretudo a obra de Machado de Assis e Clarice Lispector. É uma das fundadoras e primeira coordenadora da POET – Pós-Graduação em Estudos da Tradução (UFC) e vice-coordenadora do GT de Tradução da ANPOLL, gestão 2014-2016.
Renata Cazarini de Freitas, pesquisadora sobre o teatro antigo e sua recepção no palco contemporâneo, é doutoranda em Letras Clássicas na USP (Universidade de São Paulo).
Robert de Brose é Professor Adjunto de Letras Clássicas da Universidade Federal do Ceará, bacharel em Língua e Literatura Grega, mestre e doutor com “Distinção e Louvor” em Letras Clássicas pela Universidade de São Paulo. É membro permanente do Programa de Pós-graduação em Estudos da Tradução (POET) da Universidade Federal do Ceará e líder do Grupo de Pesquisa no CNPq “Tradução e Recepção dos Clássicos”. Atualmente dedica-se à tradução da obra completa de Píndaro com o auxílio financeiro do Edital Universal do CNPq.
Simone Homem de Mello é autora e tradutora literária. Sua poesia está publicada nos livros Périplos (2005), Extravio marinho (2010) e Terminal, à escrita (2015) e em antologias brasileiras e estrangeiras. Escreveu os libretos das óperas Orpheus Kristall (composição de Manfred Stahnke, Munique, 2002), Keine Stille auβer der des Windes (composição de Sidney Corbett, Bremen, 2007) e UBU – Eine musikalische Groteske (composição de Sidney Corbett, Gelsenkirchen, 2012). Como tradutora, dedica-se à poesia moderna e contemporânea de língua alemã. Desde 2011, trabalha como coordenadora do Centro de Estudos de Tradução Literária da Casa Guilherme de Almeida.
Yuri Brunello é professor adjunto de Literatura italiana da Universidade Federal do Ceará. Foi professor temporário da Universidade Federal do Paraná e visiting scholarna Stanford University (EUA), assim como na Concordia University de Montréal (Canada). Seus escritos sobre o romantismo, o barroco, o modernismo e a literatura italiana contemporânea foram publicados em diversas revistas acadêmicas internacionais.